Ausências
Onde repousam nossas ausências?
Nos objetos silenciados por quem partiu?
Nos cômodos imóveis das casas,
Na arrumação que teima em permanecer,
Ou na desordem que restou?
Estão no vazio que pulsa no peito,
Na simplicidade dos dias que seguem,
No aroma do café que ninguém mais sente,
Na flor que desabrocha no jardim,
Sem olhos para admirá-la,
Sem vozes para dizer:
Que bela, que cheirosa.
Aquele que contemplava com ternura
Já não contempla mais.
Foi-se.
E, com ele,
O gesto, o olhar, o perfume da presença,
O jeito de olhar que ficou retido na nossa lembrança.