O gatinho e o inverno
Lá dentro, o mundo é um abrigo de silêncios e ronrons. O frio dança do lado de fora, mas o gatinho, enrolado como um segredo, repousa entre cobertas que guardam o cheiro do tempo bom. Não há necessidade de pressa — o inverno não exige presença, apenas paciência.
Ele ouve o som da porta rangendo e levanta a cabeça com a elegância de quem decide o momento certo das coisas. Espia com olhos de luar e bigodes em atenção... mas o sol ainda é apenas uma promessa.
— “Não tenho pressa” — sussurra para si mesmo em linguagem de felino, e volta ao seu ninho como quem declina o convite do vento.
Lá dentro, o tempo passa devagar, como deve ser para quem entende que viver é também saber esperar o calor certo, no colo certo.