Meu gato dourado
Meu Tesouro amarelo repousava na beirada da janela, onde o sol desenhava sombras suaves sobre seu pelo dourado. Nunca foi caçador, nunca correu atrás de presas invisíveis—preferia a contemplação. Observava a vida desfiar suas horas, como se compreendesse cada murmúrio da brisa, cada suspiro das folhas ao vento.
Era o ancião da casa, o senhor da paciência e da sabedoria. Os mais jovens aprendiam com ele a delicadeza do tempo, o respeito silencioso que não exige palavras. E foi ele, também, quem mais sentiu a ausência de Mel, a gatinha de olhos vivos que partira na semana passada. Sua companheira de caixa de papelão, sua cúmplice de tardes preguiçosas.
Então, numa manhã serena, ele fechou os olhos para o mundo, como quem decide seguir um caminho invisível, como quem entende que certas despedidas não suportam a solidão. Partiu sem pressa, sem medo, apenas levado pelo chamado da saudade.
E assim, ficaram as memórias como estrelas brilhando na vastidão do coração. Porque os que amamos nunca vão embora por completo—deixam lições, deixam afeto, deixam um jeito novo de amar, sem medida e sem fim.