Nostalgia
De repente, somos tomados por pensamentos nostálgicos, frutos de termos mais lembranças do que novidades ou mais passado do que futuro.
Olhamos para a rua onde crescemos e percebemos o quanto tudo mudou. As casas, antes acolhedoras com seus muros baixos, agora exibem grades grossas, cercas elétricas e altos portões. Os jardins, alguns restaurados, outros completamente transformados, compartilham espaço com as ruas, antes calçadas com pedras, agora recobertas de asfalto quente, muito quente.
Não vemos mais a chuva penetrando a terra, liberando aquele aroma inconfundível que nos fazia respirar fundo, como se o ar carregasse pedaços de liberdade.
As crianças não descem mais a ladeira de bicicleta para se reunir sob a grande árvore da esquina. A árvore? Sumiu. Derrubada para dar lugar a uma farmácia.
Sinto saudades dos muros baixos, dos portões de ferro enfeitados com as iniciais do patriarca da casa e do carteiro que chamava nossos nomes com um tom tão pessoal. Todos se conheciam e isso era engraçado, era especial.
Lembro-me do padeiro, que chegava de carroça, enquanto o rabo do cavalo balançava em uma cadência hipnotizante.
Hoje, ao olhar para minha rua, carrego um misto de alegria e saudade. Não porque tudo era necessariamente melhor ou mais feliz, mas porque a simplicidade nos encantava e nos envolvia. Ela nos permitia guardar na memória cada momento que, de alguma forma, nos fez felizes.